O CEO da CrowdStrike, George Kurtz, acaba de protagonizar um dos movimentos mais desconcertantes e estratégicos ou suspeitos do setor de cibersegurança global. Doou mais de US$ 1 bilhão em ações da própria empresa para destinatários não revelados, o que reduziu seu poder de voto de 31% para míseros 2,5%. Com isso, abriu mão do controle sobre uma das maiores companhias de cibersegurança do mundo justamente no momento em que a empresa enfrenta falhas técnicas graves, investigações federais e uma crise de confiança sem precedentes.
O momento da decisão chama atenção. A doação foi feita logo após uma falha crítica no software da CrowdStrike derrubar mais de 8,5 milhões de dispositivos, afetar empresas em dezenas de países e causar prejuízos bilionários. Companhias como Delta Air Lines precisaram cancelar milhares de voos. E no centro disso tudo, o fundador da empresa, ao invés de defender a organização, transfere suas ações para trusts desconhecidos muitos dos quais liquidaram os papéis imediatamente, gerando mais de US$ 1,2 bilhão em receitas.
Mais que uma simples movimentação financeira, Kurtz também extinguiu voluntariamente a classe de ações supervotantes que lhe garantia controle total da empresa mesmo com participação minoritária. Isso não é comum. É praticamente abrir mão de um escudo de proteção em um dos setores mais sensíveis da economia digital. Analistas tentam suavizar o movimento como possível planejamento patrimonial ou sucessório, mas a falta de transparência sobre os beneficiários e a sequência de eventos colocam essa narrativa sob suspeita.
O CEO, inclusive, foi convocado para depor no Congresso dos EUA mas se recusou a comparecer, enviando outro executivo em seu lugar. Ao mesmo tempo, a empresa está sendo investigada por um acordo de US$ 32 milhões com um distribuidor, o que aprofunda os questionamentos sobre a governança de uma companhia que lida com dados de governos, infraestrutura crítica e gigantes do mercado financeiro.